terça-feira, 17 de abril de 2012

HISTÓRIA DE CANALHAS - O atraso...


Era uma vez, uma garotinha que sonhava com o príncipe encantado. Passava noites e noites assistindo às novelas da televisão e imaginando aquelas lindas histórias de amor acontecendo em sua vida. Como muitas meninas sonhadoras, a garotinha imaginava que os atores daquelas tramas eram tão perfeitos quanto os personagens que interpretavam. E se apaixonou.

Se apaixonou por um ator de novelas, que fazia sempre o papel de “homem ideal”, romântico, carinhoso, atencioso…

Um dia, por casualidade do destino, ela — que já não era mais uma garotinha e, sim, uma mulher –, jornalista formada, teve de entrevistá-lo para um trabalho que estava fazendo. Nervosa por estar cara-a-cara com o homem que amou platonicamente durante toda a sua infância e adolescência, ela mal conseguia prestar a atenção no que ele dizia. Hipnotizada por aqueles olhos de homem maduro e sedutor, quando chegava o momento de fazer-lhe outra pergunta, ela gaguejava e quase não conseguia falar.

Terminada a entrevista, eles trocaram contatos para caso houvesse alguma dúvida ou resposta pendente.

Não houve.

Um ano se passou e, quando menos esperava, encontrou seu amor de criança novamente, em um dos evento que promoveu. Era o lançamento de seu primeiro livro e ele estava lá para prestigiá-la. Ela mal podia acreditar. Trocaram olhares intencionados, mas ela não poderia oferecer-lhe nada além de sorrisos tímidos — precisava dar atenção a todos os convidados.

Três meses depois, pesquisando sobre ele na internet, a garota descobriu que o aniversário do ator estava próximo. Não teve dúvidas: enviou-lhe um email, parabenizando-o. No dia seguinte, recebeu um telefonema.

– Que surpresa! Muito obrigado pela lembrança! Fiquei muito feliz – ele disse.

Ela estava com um grito preso na garganta e tremia de emoção ao telefone.

– Vamos marcar de nos vermos? — ele sugeriu.

E na sexta-feira seguinte, ele ligou.

– Quer ir comigo a um show? Mas precisamos correr. O espetáculo começa dentro de duas horas.

“Ele quer sair comigo em público?!?!”, ela pensou. Colocou sua roupa mais bonita e partiu para encontrá-lo no local combinado.

Ele, que a esperava na porta, segurou sua mão para ajudá-la a descer do carro. Sim, ele era tão gentil quanto ela imaginava. Assim que pisaram no tapete vermelho que adentrava a casa de shows, flashes dispararam sobre o casal. Havia muita imprensa no local e ele parecia não se importar em aparecer acompanhado nas colunas sociais da semana. A recepcionista os acompanhou até os assentos reservados a eles na área VIP da platéia. A garota olhou ao redor e percebeu que naquela área, só havia artista e gente importante da cultura brasileira. Era como um sonho.

O espetáculo acabou e ele sugeriu que fossem tomar um drink em algum lugar. Foram até o flat onde ele — e o elenco todo da novela em que estava trabalhando — estava hospedado. No hall do hotel, ele a apresentou aos seus colegas de trabalho:

– Essa é minha amiga Luciana Sabbag, escritora e jornalista.

[Paro agora de escrever na terceira pessoa]

“Amiga? Tudo bem, vai… Nem nos beijamos ainda, não somos nada além de amigos mesmo”, eu pensei. Assim que acabei de fumar meu cigarro, ele me convidou para “conhecer seu apartamento”. Eu relutei, não queria que tudo fosse por água abaixo, mas ele insistiu e me garantiu que não faríamos nada (como todos eles dizem quando querem, de fato, “fazer alguma coisa”).

No quarto, aconteceu nosso primeiro beijo. Ah, que sonho! Era tão bom quanto eu imaginava que seria. Ele era tão romântico e carinhoso quanto sonhei durante minha adolescência.

Mas, como todo homem que se vê sozinho em um quarto com uma mulher, ele não poderia perder a oportunidade de tentar me levar para a cama. Tentou, mas eu não quis. Naquele momento eu já não o via mais como o homem perfeito dos meus sonhos. O tesão transforma as pessoas. Mas relevei, afinal, ele é homem.

Insistiu que eu ficasse, mas resolvi ir embora — para deixá-lo com aquele gostinho de “quero mais”. E fui.

Algumas semanas depois ele telefonou, me convidando para jantar. Um dia antes do encontro, ligou para confirmar mas, dessa vez, o tom da conversa era outro. Ele sussurrava, perguntando como eu estava vestida, falava obcenidades e, quando menos percebi, estávamos fazendo sexo por telefone. Quer dizer, ele estava. Eu só fingia.

– Mal posso esperar pelo nosso encontro de amanhã. Vou te beijar inteira…

Eu já estava brochada com esse papo de homem safado, mas pensava naquele beijo, naquelas gentilezas e… não dei bola ao meu desgosto.

No dia seguinte (dia do encontro), acordei cedo e fui ao shopping para comprar a roupa ideal para aquela noite. Fui ao salão de beleza, fiz o cabelo, as mãos, os pés, depilação… Havíamos combinado de ele passar para me buscar às 20h. Quando deu 19h30 eu já estava pronta, maquiada e belíssima no salto. Às 20h30 ele ligou, pedindo desculpas pelo atraso.

– A produção da novela me pediu que esperasse até às 21h porque, talvez, tenhamos que gravar uma cena ainda hoje.

Tudo bem, eu esperaria. Sentei no sofá e fiquei ali, pronta, sem me mexer direito (para não amassar a roupa), olhando para a televisão.

O relógio marcou 22h e eu estava mordendo os lábios de ansiedade. Nada de ele me posicionar. Às 22h30 ele telefonou:

– Lu, estou num galpão na Lapa, gravando uma cena. É rápido. Não vamos demorar, prometo. Te ligo assim que sair daqui.

Ok, eu esperaria.

23h, meia-noite, 1h… Às 2h da manhã eu já estava com cãimbras de tanto ficar na mesma posição. Às 2h30 enviei-lhe uma mensagem: “Onde você está? Ainda demora?”. Não tive resposta.

Às 3h da manhã eu comecei a chorar e, como a maquiagem já estava ficando toda borrada, resolvi me “desmontar”.

Nunca mais ele ligou. E o engraçado é que eu nunca vi, na novela, aquela cena gravada no galpão.

Luciana Sabbag


Nenhum comentário:

Postar um comentário