domingo, 17 de junho de 2012

Proibido ser morno

Adoro ler textos que falam de amor, entrega, paixão e tesão. Principalmente quando são escritos por homens...

 

"Hoje chorei por ter perdido os versos que a vida me obrigou a esquecer antes mesmo que eu pudesse escrevê-los em algum guardanapo de boteco, SMS etílico ou no coração alado de alguma mulher que por ao menos uma noite foi inteira minha.

Hoje sorri quando me vi no espelho e em meio à minha barba escura percebi um solitário fio branco, a prova irrefutável de que estou envelhecendo, aprendendo a perder tudo que tenho para quem sabe um dia, poder ensinar algo sobre ganhar o que me falta.

Hoje comemorei com fogos de artifício e champagne as minhas incontáveis derrotas, as inúmeras vezes que passei longe do pódio e nem ao menos pude estimar o peso daquele troféu.

Celebrei os gols praticamente feitos que perdi em cima da linha do pênalti, os socos dos quais não fui capaz de esquivar e principalmente, as vezes que subestimei meu adversário e felizmente percebi minha falta de modéstia enquanto superestimava-me.

Aplaudi esses tantos tombos com a certeza de que foram eles que me lecionaram o sabor perigoso da vitória e todo o risco presente nas medalhas de ouro que carregamos no peito, como se vestíssemos uma armadura dourada de orgulho.

Hoje cantei Sinatra no banho e sem me importar com meu desafino fiz do xampu microfone, como se pelado eu trajasse chapéu e gravata borboleta, mais que isso: como se de dentro do meu box de vidro transparente eu pudesse enxergar o mundo todo do meu jeito, “My Way”, feito de muita poesia e folhas em branco, prontas para receber a tinta fluorescente dos meus insaciáveis desejos.

Hoje acordei fervendo, com febre de viver e uma incendiária certeza: para abrir os olhos de verdade, não é permitido ser morno.

Não importa com qual pé pisará primeiro quando resolver sair da cama e do coma, apenas pise forte e mantenha seus passos com fome, o mundo está ali para que você o devore já! Não espere tanta coisa esfriar.

Ser morno é caminhar em cima do muro, é esperar o tempo passar sem passar pelo tempo.

Ser morno é segurar a cintura dela com a mão frouxa, é fazer sexo sem entregar-se até colocar fogo no colchão.

Ser morno é desejar coisas medianas e saciar a vontade com coisas menores ainda.

Ser morno é fazer striptease pela metade, penetrar pela metade e amar pela metade.

Ser morno é estar sempre meia-bomba e não deixar nenhum estilhaço cravado no mundo.

Por mais masoquista que pareça, prefira aquilo que queima e inevitavelmente marca – essas são as coisas que, no futuro, te farão olhar pra trás e constatar que a vida valeu a pena."



Ricardo Coiro (http://www.casalsemvergonha.com.br)

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