Era uma vez, uma garotinha que sonhava
com o príncipe encantado. Passava noites e noites assistindo às novelas da
televisão e imaginando aquelas lindas histórias de amor acontecendo em sua
vida. Como muitas meninas sonhadoras, a garotinha imaginava que os atores
daquelas tramas eram tão perfeitos quanto os personagens que interpretavam. E
se apaixonou.
Se apaixonou por um ator de novelas,
que fazia sempre o papel de “homem ideal”, romântico, carinhoso, atencioso…
Um dia, por casualidade do destino, ela
— que já não era mais uma garotinha e, sim, uma mulher –, jornalista formada,
teve de entrevistá-lo para um trabalho que estava fazendo. Nervosa por estar
cara-a-cara com o homem que amou platonicamente durante toda a sua infância e
adolescência, ela mal conseguia prestar a atenção no que ele dizia. Hipnotizada
por aqueles olhos de homem maduro e sedutor, quando chegava o momento de
fazer-lhe outra pergunta, ela gaguejava e quase não conseguia falar.
Terminada a entrevista, eles trocaram
contatos para caso houvesse alguma dúvida ou resposta pendente.
Não houve.
Um ano se passou e, quando menos
esperava, encontrou seu amor de criança novamente, em um dos evento que
promoveu. Era o lançamento de seu primeiro livro e ele estava lá para
prestigiá-la. Ela mal podia acreditar. Trocaram olhares intencionados, mas ela
não poderia oferecer-lhe nada além de sorrisos tímidos — precisava dar atenção
a todos os convidados.
Três meses depois, pesquisando sobre
ele na internet, a garota descobriu que o aniversário do ator estava próximo.
Não teve dúvidas: enviou-lhe um email, parabenizando-o. No dia seguinte,
recebeu um telefonema.
– Que surpresa!
Muito obrigado pela lembrança! Fiquei muito feliz – ele disse.
Ela estava com um grito preso na
garganta e tremia de emoção ao telefone.
– Vamos marcar de
nos vermos? — ele sugeriu.
E na sexta-feira seguinte, ele ligou.
– Quer ir comigo a
um show? Mas precisamos correr. O espetáculo começa dentro de duas horas.
“Ele quer sair
comigo em público?!?!”, ela pensou. Colocou sua roupa mais bonita e partiu para
encontrá-lo no local combinado.
Ele, que a esperava na porta, segurou
sua mão para ajudá-la a descer do carro. Sim, ele era tão gentil quanto ela
imaginava. Assim que pisaram no tapete vermelho que adentrava a casa de shows, flashes dispararam sobre o
casal. Havia muita imprensa no local e ele parecia não se importar em aparecer
acompanhado nas colunas sociais da semana. A recepcionista os acompanhou até os
assentos reservados a eles na área VIP da platéia. A garota olhou ao redor e
percebeu que naquela área, só havia artista e gente importante da cultura
brasileira. Era como um sonho.
O espetáculo acabou e ele sugeriu que
fossem tomar um drink
em algum lugar. Foram até o flat
onde ele — e o elenco todo da novela em que estava trabalhando — estava
hospedado. No hall do
hotel, ele a apresentou aos seus colegas de trabalho:
– Essa é minha amiga
Luciana Sabbag, escritora e jornalista.
[Paro agora de
escrever na terceira pessoa]
“Amiga? Tudo bem,
vai… Nem nos beijamos ainda, não somos nada além de amigos mesmo”, eu pensei.
Assim que acabei de fumar meu cigarro, ele me convidou para “conhecer seu
apartamento”. Eu relutei, não queria que tudo fosse por água abaixo, mas ele
insistiu e me garantiu que não faríamos nada (como todos eles dizem quando
querem, de fato, “fazer alguma coisa”).
No quarto, aconteceu nosso primeiro
beijo. Ah, que sonho! Era tão bom quanto eu imaginava que seria. Ele era tão
romântico e carinhoso quanto sonhei durante minha adolescência.
Mas, como todo homem que se vê sozinho
em um quarto com uma mulher, ele não poderia perder a oportunidade de tentar me
levar para a cama. Tentou, mas eu não quis. Naquele momento eu já não o via
mais como o homem perfeito dos meus sonhos. O tesão transforma as pessoas. Mas
relevei, afinal, ele é homem.
Insistiu que eu ficasse, mas resolvi ir
embora — para deixá-lo com aquele gostinho de “quero mais”. E fui.
Algumas semanas depois ele telefonou,
me convidando para jantar. Um dia antes do encontro, ligou para confirmar mas,
dessa vez, o tom da conversa era outro. Ele sussurrava, perguntando como eu
estava vestida, falava obcenidades e, quando menos percebi, estávamos fazendo
sexo por telefone. Quer dizer, ele
estava. Eu só fingia.
– Mal posso esperar
pelo nosso encontro de amanhã. Vou te beijar inteira…
Eu já estava brochada com esse papo de
homem safado, mas pensava naquele beijo, naquelas gentilezas e… não dei bola ao
meu desgosto.
No dia seguinte (dia do encontro),
acordei cedo e fui ao shopping para comprar a roupa ideal para aquela noite.
Fui ao salão de beleza, fiz o cabelo, as mãos, os pés, depilação… Havíamos
combinado de ele passar para me buscar às 20h. Quando deu 19h30 eu já estava
pronta, maquiada e belíssima no salto. Às 20h30 ele ligou, pedindo desculpas
pelo atraso.
– A produção da
novela me pediu que esperasse até às 21h porque, talvez, tenhamos que gravar
uma cena ainda hoje.
Tudo bem, eu esperaria. Sentei no sofá
e fiquei ali, pronta, sem me mexer direito (para não amassar a roupa), olhando
para a televisão.
O relógio marcou 22h e eu estava
mordendo os lábios de ansiedade. Nada de ele me posicionar. Às 22h30 ele
telefonou:
– Lu, estou num
galpão na Lapa, gravando uma cena. É rápido. Não vamos demorar, prometo. Te
ligo assim que sair daqui.
Ok, eu esperaria.
23h, meia-noite, 1h… Às 2h da manhã eu
já estava com cãimbras de tanto ficar na mesma posição. Às 2h30 enviei-lhe uma
mensagem: “Onde você está?
Ainda demora?”. Não tive resposta.
Às 3h da manhã eu comecei a chorar e,
como a maquiagem já estava ficando toda borrada, resolvi me “desmontar”.
Nunca mais ele ligou. E o engraçado é
que eu nunca vi, na novela, aquela cena gravada no galpão.
Luciana Sabbag
Nenhum comentário:
Postar um comentário