quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Cuidado com as frases que usa para chamar a atenção do seu filho

 
Na hora do nervoso, da raiva, nem sempre é fácil controlar as palavras.
Bradamos aos quatro ventos nossa indignação, muitas vezes usando frases feitas e de grande carga negativa. Já reparou quantas vezes isso acontece dentro de casa? Pois é, quando precisamos dar bronca nas crianças, geralmente apelamos para expressões impactantes: “você não faz nada direito!”; “você é um preguiçoso mesmo. Desse jeito, não vai ser nada na vida!”. Elas soam como meras explosões de fúria ou podem acarretar consequências no desenvolvimento dos pequenos?
Para a psicóloga Aurea Ferreira, os pais precisam ser cautelosos na maneira como falam com os filhos. “Quando os pais verbalizam para os filhos que eles não sabem fazer nada direito, as crianças podem crescer com esses conceitos, essas regras. Dessa forma, há a possibilidade de elas não se sentirem capazes, quando adultas, por exemplo, de desenvolver um projeto bacana em seu trabalho, não sentirem confiança no que fazem e nos resultados”, exemplifica.
Esse tipo de agressão verbal é muito mais comum do que imaginamos. Mesmo pais zelosos e carinhosos podem deixar escapar, num momento de nervosismo, frases comprometedoras. “Muitas vezes, o estresse do dia a dia, a falta de tempo, a falta de ‘prática’, a cobrança que os pais fazem a si mesmos na busca de serem os mais adequados podem acabar gerando um aumento da autocobrança. Em momentos estressantes é mais fácil apresentar esses comportamentos”, comenta a psicóloga.
Quando isso acontecer, o ideal é se retratar com o pequeno. “Assim que perceberem o erro, os pais podem conversar com a criança e esclarecer o que houve”, orienta Aurea.
Regras e afins
Então, os pais não podem dar bronca nos filhos quando eles estão errados? Muito se questiona a esse respeito, já que as gerações passadas foram criadas com muita repressão, palmadas e castigos.
A questão é o tipo de educação que queremos dar aos nossos filhos. Ao dizer frases ofensivas – que, cá entre nós, não diríamos nem mesmo àquela pessoa chata que vive nos perturbando – estamos ofendendo e muitas vezes comprometendo a autoestima das crianças. “Como exigir que o filho seja educado se os pais não o são?”, indaga a psicóloga.
Estamos lidando atualmente com uma geração de crianças questionadoras e cientes de seu papel no mundo. Diferentemente do que acontecia na época de nossos avós, hoje os pequenos têm uma relação mais próxima com seus pais e exigem tratamento de igual para igual, sem distinção de hierarquia. Ao ouvirem ofensas, podem não entender que por trás das palavras duras existe apenas a intenção de educar.
Chamar o filho de burro,   molenga ou “um zero à esquerda” não vai ajudá-lo a avaliar onde está errando. “Isso pode estabelecer para a criança padrões errados de autopercepção e, consequentemente, ter reflexo em seu futuro”, ressalta Aurea.
O ideal é ser direto e objetivo. “As mensagens devem ser claras, sempre explicando o porquê das coisas, das regras, dos nãos, assim o pequeno cresce em um ambiente seguro. Quando isso não acontece, a linguagem fica no ar, permite à criança imaginar, supor uma infinidade de consequências. Essa sensação de ‘fumaça’ pode gerar sentimentos de insegurança, ansiedade, instabilidade, já que esta não sabe claramente o que irá acontecer se tiver um ou outro comportamento.”
Por exemplo: se você estabelecer que seu filho precisa fazer a lição de casa antes de brincar, essa regra precisa ser cumprida, de forma que a criança sinta-se segura e consciente dos resultados. Quando ela quebra uma norma previamente estabelecida e não tem a punição - como não fazer a lição e ir brincar mesmo assim - passa a não respeitar as ordens da casa e dos pais.
 
10 frases que não se deve dizer ao filho:
"Seu molenga, você cai toda hora".
"Você é um preguiçoso, mesmo. Não vai ser nada na vida!"
"Vou te dar uma surra".
"Você não me obedece; nunca mais vou falar com você."
"Se não me obedecer vai ficar um mês sem computador."
"Você está comendo como um porco."
"Já falei mais de mil vezes."
"Se mexer aí o policial vai te prender"
"Se não tomar remédio, o médico vai te dar uma injeção."
"Por que você não faz como seu irmão, que é tão obediente?"
“As regras são importantes para as crianças, pois são o alicerce de um ambiente seguro, confiante. Elas não precisam ser vistas como punitivas, podem ser vistas como demonstração de amor e de preocupação”, Aurea Ferreira
Use mensagens claras, sempre explicando o porquê das coisas, das regras, dos nãos. Assim a criança cresce em um ambiente seguro.
Entrevista cedida pela psicóloga Aurea Ferreira, psicóloga clínica com Especialização em Terapia Comportamental Cognitiva pela Universidade de São Paulo – USP, para revista Na Mochila – Jornalista Rose Araujo

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