quarta-feira, 21 de março de 2012



"E de pensar nele a barriga esfriava. E esquentava ao mesmo tempo. Sensação esquisita, porque nesse momento mais parecia que todo o seu corpo passava a ser puro abdômen. Ora, de onde tiraram a idéia de que os sentimentos acontecem no coração? Para ela era na barriga que os melhores – e os piores - sentimentos existiam.

E de ser olhada por ele a sua existência tremia. Não sabia mais ser natural, virava uma marionete que era controlada por alguém descontrolado. Tornava-se mais desengonçada – era a sua alma se esparramando.

E de assistir palavras pulando da boca daquele moço, ensurdecia-se. Não podia saber do que é que ele falava. Então se transformava toda num riso trêmulo e nervoso, que nada sabia, além do fato de que nada podia fazer.

E de se sentir amada, fragmentava-se. Descansava da sua existência no colo dele. Abandonava a sua respiração, desfrutando dos prazeres do olfato.

E foi de repente, assim, num espaço de uns dez anos, que ela se deu conta que a barriga era sua, a existência era sua, a visão das palavras era sua, o sentimento era seu. Estava sozinha, e talvez sempre tivesse estado. Soube que o amor mais genuíno é o amor por si mesmo. E soube ainda que saber disso era muito doído. E por doer foi buscar outro alguém pra lhe distrair com sensações esquisitas na barriga."

http://confrariadostrouxas.blogspot.com.br/

Um comentário:

  1. Oi!

    http://confrariadostrouxas.blogspot.com.br/2011/08/todo-amor-e-fast-mas-nem-todo-amor-e.html


    apenas faltou a referência.

    ResponderExcluir