sexta-feira, 6 de abril de 2012

Amor & amores


Lamento admitir, mas o Nelson Rodrigues tem razão, o amor não morre.
Nunca.
Por mais que o enterremos, o afoguemos, tentemos esfaqueá-lo, esquartejá-lo ou incinerá-lo, ao contrário do frágil ódio, o amor perdura.
O amor que foi continua sendo. Mesmo se a decepção, a traição, o rancor, o ciúme, o egoísmo ou a morte tenham destruído um relacionamento, o amor que um dia aconteceu é para sempre.

Podes sentir ciúme dos “ex”s de tua amada.
Aqueles que passaram pela vida dela carregam um todo dessa mulher que tu nunca vais ter.
Do mesmo modo, as ex-namoradas de teu marido das quais “roubaste” o cargo de esposa, roubaram de ti românticos capítulos da juventude desse homem que jamais terás.
Mesmo que hoje ele as odeie, as despreze e nunca mais as veja, um todo de cada uma delas está presente nele.
Para sempre.


Quem pode roubar de nós o primeiro beijo roubado?
O primeiro é o primeiro.
Se tu não foste o autor do primeiro, tu serás, no máximo, o primeiro de língua, o primeiro na padaria, o primeiro com aparelho nos dentes...
O primeiro mesmo, meu caro, já foi e dela ninguém tira. Admite.
Admite o quão verdadeiros foram as confissões babacas ao pé-do-ouvido, as primeiras flores recebidas, as fugas e desculpas para ver o “grande amor da minha vida”, o beijo flagrado naquela tarde embaixo da mangueira e que só foi o que foi porque teve um beijo, um abelhudo e uma mangueira que jamais voltarão.
Não precisam. São eternos. Ainda que o amado tenha sumido, o abelhudo, morrido e a mangueira, sido cortada.
Admite que teu amado de hoje foi aprimorado pelas outras mulheres que ele amou.
Que as flores que recebes hoje são filhas do primeiro buquê que ele comprou cujo perfume ainda está nele.
Admite que a paciência dele com tua TPM foi conquistada por outra menina que não contou com a mesma complacência.
Que as delicadezas que ele hoje tem contigo não vieram das conversas com os amigos, mas de aulas práticas ministradas por almas do sexo feminino.
Aceite o fato de que o olhar carinhoso que hoje te derrete foi ensaiado em outros rapazes e que os beijos que agora recebes são jóias lapidadas por outras bocas.
Graças a elas, não recebeste um diamante bruto.
Admite que teu amado não é teu. Há nele algo tão “ele” que jamais terás, feito de partes que outras tiveram, feito de um todo que também levarás.
Admite que tua amada não é tua. Há nela um Bruno, um Carlos, um Luís tão dela quanto ela mesma.
Amores verdadeiramente amados que nunca morrerão e que a fazem ser quem é, que fazem todos ser quem são.
Admitir isso é o começo do amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário